quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A lógica de Joe Dumars


Já falei aqui sobre Joe Dumars algumas vezes. Sua importância para o Detroit Pistons vai além de suas (fantásticas) contribuições como jogador, líder e hall of famer. Isso porque logo após se aposentar, Joe se tornou o gerente geral da franquia que defendeu durante toda sua carreira profissional.

Justamente por ser a única pessoa que participou ativamente de todas as grandes conquistas da equipe, Dumars tem um lugar especial reservado, para todos nós. Como jogador, fez parte do bicampeonato da equipe em 1989/1990, se tornando um dos líderes da equipe que marcou a NBA na época, pondo fim às eras de Magic Johnson e Larry Bird. Vários all-star games, um prêmio de MVP das finais e, por fim, a indução ao hall da fama do esporte. Me parece uma carreira de bastante sucesso. Já falamos dele, como jogador, aqui.

Já como GM, Joe assumiu e transformou um time mediano em campeão e, além, transformou o Pistons em um time que se manteve no topo por bastante tempo. Escrevemos sobre esse time mágico, com mais detalhes aqui.


Mas porque estou falando de tudo isso? Bom, como dá pra ver, jogo após jogo, o time do Pistons, simplesmente não dá certo. A equipe tem inúmeros problemas. Não defende, não se movimenta sem a bola, no ataque, não sabe arremessar, não pega rebotes, não tem comando, enfim, são só problemas.


Desanimado da equipe - todo jogo tem sido a mesma coisa -, comecei a pensar um pouco porque a equipe está dando tão errado, mas por um outro ponto. Poderia dar aqui um milhão de números que comprovam os patéticos desempenhos das "estrelas" do time e, o baixo nível de atuação até de quem fazia bons jogos na temporada passada. Então comecei a pensar no Pistons desde que Dumars assumiu, e percebi algumas coisas.


Como todos sabem, Dumars chegou e teve de lidar com o descontentamento de sua única estrela, Grant Hill. Sabendo que Hill não ia ficar, ele arrumou uma troca com o Magic e recebeu Ben Wallace. Depois, assinou com Billups, considerado, na época, um bust. Trouxe um scorer, um rookie e, mais tarde, um jogador bom, mas que não conseguia se firmar em lugar nenhum, por ser problemático. Juntou tudo e conseguiu um time campeão. 



Costumo dizer que não se vai a lugar algum na vida sem sorte. Joe é o claro exemplo disso. Tudo bem, que ele tem seu mérito em todas essas apostas, mas, a verdade, é que o - agora - GM, deu muita sorte em todos os movimentos que fez. Nenhum dos jogadores que ele reuniu, era certeza na liga. Qual a probabilidade de um bust estourar, como Billups? Ou Sheed manter a cabeça no lugar e se tornar o que foi? Sim, é pequena. Mas funcionou. Então, a partir daí, criou-se uma atenção em Dumars que - ao meu ver - pode tê-lo prejudicado.


Explico. Dumars montou um time em que apenas um jogador - Ben Wallace - já era all star. Os outros foram talentos "escondidos", até certo ponto, que ele descobriu (vamos adicionar, de novo, o fator sorte). Dumars encontrou, nas finais da liga, um time que era o exato oposto do que era o Pistons. Recheado de estrelas, o Lakers tropeçou no próprio ego e foi derrotado na final, que havia entrado como favorito, e muito. Sejamos sinceros em dizer que isso dá uma beleza especial ao título. Enfrentar um time "galático", e derrotá-los com atuações muito superiores, com trabalho duro e entrosamento, tem seu charme. E isso caiu sobre Dumars.


Então, de repente, Dumars achou que tinha descoberto a fórmula do sucesso. Além, aquele time combinava perfeitamente com a "identidade do time" de Detroit. Identidade que o próprio Joe havia ajudado a construir, lá no começo dos anos 90. Então, taxado como um dos melhores GMs da liga, Joe - provavelmente - acreditou ter descoberto um "estilo" próprio de montar times. Oras, mas porque não, se havia dado tão certo? Como dito, a sorte fez seu papel, naquele time. 



O "estilo Dumars" apareceu então, logo na sequência, com a perda de Ben Wallace. O que fez Joe? Apostou em Chris Webber, esse, já consolidado, mas com um milhão de outros problemas, que inviabilizaram sua contribuição à equipe. Passado o tempo, com sucessivas derrotas nas finais de conferência, Joe resolveu trocar de "estilo". Ao invés de procurar talentos desvalorizados, ou apostar em jogadores desconhecidos, ele resolveu apostar em uma estrela. Trouxe Allen Iverson, desfazendo-se, do líder da equipe, para viabilizar a chegada do reforço. Tal qual como com Webber, Iverson foi um fracasso total. Já em declínio, o jogador nunca se adaptou ao time e, com constantes lesões, ficou um bom tempo no estaleiro. Foi embora no final da temporada, ao tempo que chegamos no primeiro ponto chave da história recente do Pistons. 


Sem Iverson, com um time mediano, mas com dinheiro, Dumars foi à free agency disposto a gastar. Não quis apostar em estrelas, outra vez. Usou o "estilo Dumars". Foi atrás de jogadores que eram, claramente, apostas, mas, ao invés de tratá-los como apostas, deu contratos estelares à eles. Ok, Ben Gordon poderia, eventualmente, ser o novo Rip Hamilton (mesmo com este ainda no elenco), e Charlie Villanueva, eventualmente, também poderia ser o novo Rasheed Wallace. O que faltou, porém, dessa vez, foi a sorte. Joe, ao fazer esses movimentos, não teve juízo tal qual não havia tido no começo da década. A diferença, dessa vez, foi que as apostas não deram certo. Em vez de taxá-lo de gênio, dessa vez ocorreu o oposto. Embora apostas, Gordon e Villa eram, ainda assim, muito inferiores às outras em que Dumars confiou. O resultado não poderia ser outro, além do fracasso.


Fazendo um movimento - desnecessário -, o GM livrou-se de Ben Gordon, e teria espaço novamente na folha salarial para contratar. O que vimos então, foi, dessa vez, uma confusão do estilo que ele próprio criou. Dumars não teve um pingo de lucidez e, a impressão que fica, é que ele foi fazendo negócios sem pensar. O "estilo Dumars", apareceu mais uma vez, com a contratação de Brandon Jennings, um armador com pouca moral ao redor da liga, por motivos óbvios, que Joe preferiu ignorar. Claro, a mágica ia ajudar dessa vez, como fez outrora, no time campeão, certo? Não. 


Jennings é a personificação da ineficiência. Seus números são muito bons à primeira vista - 17 pontos e 8 assistências por jogo, em média, aproximadamente -, mas Jennings não tem inteligência o suficiente para armar um time. Com o time ganhando, ele arremessa de 3. Jogo empatado? Arremesso de 3. Perdendo por pouco? Chute de 3. Às vezes, ele se cansa de arremessar - deve doer o braço - e resolve passar a bola. Consegue quatro ou cinco assistências, e volta a arremessar. Termina o jogo com oito, nove, ou até mais, passes decisivos, e esconde sua ineficiência atrás dessa outra estatística. Apenas para efeito de curiosidade, nos últimos 3 jogos, Jennings tem 10-44 em arremessos.



Mas, espera um pouco. Antes de Jennings, Dumars já tinha feito dois movimentos. O primeiro deles foi a contratação de Josh Smith - já já eu chego nele - e o segundo foi a contratação de Maurice Cheeks, para o cargo de treinador.


Cheeks treinou algumas equipes antes de assumir o papel de assistente no Thunder, onde estava, e nunca teve holofotes. Mas ele tinha algo que podia interessar a equipe. Dizem - porque eu não vi essa habilidade nele - que ele era muito bom orientando armadores, inclusive tendo sido "mentor" de Russell Westbrook. Isso o credenciava para tentar extrair algum basquete do jovem Brandon Knight, o que eu achava, à época, uma aposta válida. E então, o que Dumars fez? Sim, enviou Knight ao Bucks em troca do brilhante Jennings. Me arrisco a dizer que nem Gregg Popovic daria jeito em Brandon Jennings. Bom, Maurice não tem conseguido.


Perdido em seus próprios movimentos, Dumars misturou tudo. Misturou a mentalidade de pegar possíveis talentos subvalorizados para apostar com a mentalidade de contratar estrelas e resolveu que Josh Smith, recém saído do Atlanta Hawks, poderia fazer esse papel. Teimoso, resolveu que iria colocar Smith numa posição onde, em quase dez anos de carreira nunca rendeu: no perímetro. Claro, isso faz sentido, porque a mágica, ela ia fazer tudo dar certo, como fez em 2004. Basta ver um jogo da equipe para constatar que Joe errou mais uma vez.



Podemos ver então, que o estilo Dumars, o time campeão e todos os frutos que isso rendeu, foram, na verdade, frutos de um misto de competência, sorte e irresponsabilidade. Ao chegar na equipe, Dumars foi irresponsável. Irresponsável ao apostar num bust, irresponsável ao fazer apostas para completar o time, irresponsável ao draftar Darko Milicic. Mas como funcionou, ninguém prestou muita atenção nisso e, pior, o próprio Dumars, acreditou que aquele era o modelo ideal para montar um time. Então tentou repetir seu recém desenvolvido método, sem perceber que fora extremamente ajudado pela sorte.


Aquele time era mágico, por mil motivos diferentes, simplesmente não há como repetir o que foi feito com ele. Mas Dumars seguiu ignorando isso ao ponto de termos um time completamente ineficiente, que não está perdendo de propósito, mas também não consegue vencer. A sorte, até reapareceu, via draft. Mas Dumars, a ignorou de novo e, aos poucos, vai queimando Monroe. 


Enquanto isso, nós, torcedores vamos sofrendo, vendo um time sem treinador, sem tática, sem vontade vestir a camisa que já foi do próprio Dumars. Enquanto isso vamos sofrendo, vendo todas as possibilidades se esvaírem. 


Tudo fruto da irresponsabilidade do Sr. Joe Dumars.

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